Cultura

“O que me instiga na música é levar o lenitivo a quem necessita”

A cantora e psicóloga Vera Capilé tem uma trajetória expressiva na música mato-grossense. Os ambientes musicais por onde circulou sempre foram de harmonia e respeito às diferenças. A diversidade das próprias produções provoca um encontro de geografias, gerações e tradições musicais, sem perder de vista o compromisso com a representatividade. Uma variedade de experiências no universo da música. Nesta entrevista, ela conta sua trajetória, sua relação com o canto influenciada pelo pai e o gratificante processo de divulgar a música regional de Mato Grosso além das fronteiras.

Blog da Condessa – Como surgiu a música na sua vida?

Vera Capilé -Nasci numa família musical. Meu pai, Sinjão Capilé, foi meu grande maestro, professor, incentivador.

Blog da Condessa -Comente, por favor, sobre o impacto da pandemia no cenário artístico.

Vera Capilé –A pandemia afetou muito a classe artística. Tanto que muitos músicos passam necessidades básicas, e os que podem estão tentando suprir com alimentos.

Blog da Condessa – Estavas com projetos em andamento, antes de iniciar o distanciamento social?

Vera Capilé – Sim. Tinha projetos com o Coro Experimental, do qual faço parte desde 2017. Eram vários shows agendados. Tinha na agenda também show com minha parceira querida, Wanessa Dias. Pauta no Sesc Arsenal que foi suspensa. 

Blog da Condessa – Quando e como foi a sua estreia como artista musical?

Vera Capilé – Minha estreia como cantora foi em festas da família. Sinjão Capilé tocando e eu cantando. Como o mestre era ele, cantava serestas, guarânia, polkas paraguaias, valsas. Desde muito cedo aprendi a cantar em português e castelhano. Nasci em Dourados (MS), muito próximo à fronteira do Paraguai. Quando viemos para Cuiabá, a família toda, deparei-me com a cultura rica daqui.  Que maravilha. Fui para a rádio A Voz d’ Oeste. Ali tinha um programa só meu. Voz e violão. Serestas na Noite. Foi mágico. Tinha até fãs. Isso aos 15, 16 anos. Alves de Oliveira era o diretor da rádio. Grande incentivador. Foi nessa época que recebi convite para ir gravar na RCA Victor. Mamãe, dona Roma, não deixou. Grande decepção. Eu era muito jovem. Ela, grande guardiã.

Blog da Condessa – Muitas adversidades no início da carreira?

Vera Capilé – Tive adversidades, mas também muita satisfação no que me propunha a fazer. Assim, quando se apresentou a oportunidade para gravar o primeiro CD, com a base sólida da viola de cocho, não hesitei. Gravei no estilo música de raiz, cirandas. 

Blog da Condessa – Além do talento, a técnica é relevante?

Vera Capilé – Em 2004, com 55 anos, vi a necessidade de cuidar melhor de minha voz. Procurei André Vilanni, ótimo preparador vocal, que me deu segurança pra alçar vôos mais longos. Ele me aconselhou buscar uma fonoaudióloga.  Desde então sigo com Cristiane Puertas, preparadora vocal e cantora. Não adiantava só o talento, precisava e preciso até hoje da técnica para manter a voz.  Quero que a voz siga a minha vida.

Blog da Condessa – Tua música já atravessou fronteiras?

Vera Capilé – O primeiro CD, Um canto de amor a Cuiabá, foi dirigido por Habel dy Anjos. Depois gravei o segundo, Flor de Laranjeira, dirigido pelo maestro Fabrício Carvalho e pelo grande músico Orlando Brito. Com estes dois trabalhos, rompi fronteiras de Mato Grosso e do Brasil.

Blog da Condessa – Ao longo da carreira, muitas premiações? Alguma em destaque pela relevância?

Vera Capilé – Em 2019 fiz 70 anos. Comemorei com um show bem a meu gosto. Fiz um show no teatro Anderson Flores, que lotou! Recebi muitas premiações, comendas, aplausos. De Ordem do Cavalheiro a Honra ao Mérito. São todas muito importantes. E, ressalto, que sou Cidadã Cuiabana por mérito. Só falta ser cidadã Mato-grossense.

Blog da Condessa – Na sequência, o que comemorar?

Vera Capilé – Em setembro teremos Ixpia, o Festival na sua segunda edição. Mais de 100 artistas se apresentando gratuitamente para elevar a alma de quem assistir. E é assim que vejo a música, a arte. Como caminho de cura.

Blog da Condessa – Qual ou quais os artistas que exerceram maior influência na sua música?

Vera Capilé – Me casei cedo. Nem fui estudar. Aqui, só Direito e Pedagogia. Sempre quis Psicologia. Muito tempo depois, ingressei na faculdade de Psicologia. Sou psicóloga com especialização em Gerontologia. Em 1996, incentivada por Liu Arruda, Ernani Calhao ( amigos) e Waldir Bertulio ( companheiro ), voltei para os palcos. Desde o início tive a parceria de Habel dy Anjos, que com a viola de cocho colocava minha voz em pódios nunca imaginados.

Blog da Condessa – O artista vê o mundo de uma forma diferente?

Vera Capilé  – Justamente por ver o mundo de firma diferente que estou enfrentando tudo com serenidade, paciência e com esperança de mudanças para melhor.

Blog da Condessa – Como se dá o seu processo de criação, inspiração?

Vera Capilé  – Com a vinda dos  netos, veio a inspiração para a primeira ciranda. Depois um rasqueado, um samba rancho. Fui compondo para os netos, para os pássaros. A natureza que incentiva.

Blog da Condessa –  O que mais a instiga profissionalmente?

Vera Capilé – O desafio me instiga: levar o lenitivo a quem necessita. Como um bálsamo, para a cura.

Blog da Condessa – Você faz live nesse período de isolamento social? Novas formas de apresentação?

Vera Capilé – Faço lives, cursos, atendimento psicológico online. Me adaptei bem. 

Blog da Condessa – Quantos participantes inseridos no teu contexto musical?

Vera Capilé – Participei de trabalhos de colegas. Em 2011 gravei o terceiro CD: Cirandando. Neste gravei três músicas autorais: Cirandando, Filhote desse Lugar e Cheiro de Mato.  Depois fiz um trabalho autoral de canções para netos: Coisas de vó. Direção e arranjos de Habel. Em 2017 junto com André Balbino e Juliane Grizolia criamos o Trio do Mato. O trio circulou com o projeto Canto Prosa e viola. Fomos para várias cidades do estado com este show. 

Blog da Condessa – A tradição e a modernidade se situam no repertório?

Vera Capilé – Fui selecionada para o Projeto Pixinguinha em 2004. Convidei para acompanhar-me Habel dy Anjos e sua viola de cocho. Foi um sucesso. A caravana toda nós acolheu com muito carinho e profissionalismo. Faziam parte desta caravana grandes músicos, cantores e compositores, destacando-se Renato Braz e Simone Guimarães. No primeiro show que fizemos, na Funarte em Brasília, fomos convidados para ir para o Ano do Brasil na França. Em julho de 2005 fomos para os palcos de Paris. Ali cantei São Benedito Flor de Laranjeira para franceses, portugueses, e muitos outros europeus, além de brasileiros.

Blog da Condessa – Como você percebe a influência da música em suas histórias de vida?

Vera Capilé  – Fui selecionada para o Projeto Pixinguinha em 2004. Convidei para acompanhar-me Habel dy Anjos e sua viola de cocho. Foi um sucesso. A caravana toda nós acolheu com muito carinho e profissionalismo. Faziam parte desta caravana grandes músicos, cantores e compositores, destacando-se Renato Braz e Simone Guimarães. No primeiro show que fizemos, na Funarte em Brasília, fomos convidados para ir para o Ano do Brasil na França. Em julho de 2005 fomos para os palcos de Paris. Ali cantei São Benedito Flor de Laranjeira para franceses, portugueses, e muitos outros europeus, além de brasileiros.

Blog da Condessa – Como artista e espectadora, como você enxerga o papel da cultura nesse momento?

Vera Capilé – Infelizmente a cultura continua o primo pobre. Não há, a meu ver, um destaque ao segmento que mais eleva qualquer nação. A arte coroa todas as ações de um governo.

 

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