Cultura

“A música é o som da alma humana”

Essa é a definição absolutamente pessoal do que é música para o maestro e compositor Carlos Taubaté. No decorrer dessa entrevista exclusiva concedida ao Blog da Condessa, o regente de corais garante que não há limite de repertório, porém com critérios e atento à música de qualidade.  A vida tem trilha sonora e o coral faz parte dela. “O canto coral faz parte da formação do patrimônio auditivo do músico”, observa o maestro. A prática do canto coral  contribui não só para o desenvolvimento musical, como também social e intelectual. Mas, mais que uma válvula de escape para o estresse,  música pode trazer outros benefícios. A voz humana, em si, se presta mais do que qualquer instrumento musical para a transmissão de mensagens que envolvem temas com aspectos cruciais da existência humana: vida, amor, sofrimento, alegria, morte. O maestro e compositor Carlos Taubaté é regente de corais em Cuiabá, entre eles o do  Tribunal de contas de Mato Grosso (TCE/MT), Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grossso (ALMT), do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (Senar-MT) e do coral municipal de Cuiabá.

Blog da Condessa – Como surgiu a música na sua vida?

Carlos Taubaté – Sou formado em composição e regência. Na época que fiz faculdade em São Paulo os dois cursos eram juntos. Hoje, são separados. No entanto, antes de fazer música eu cursava engenharia civil na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Mas, na sequência, a música falou mais alto. Deixei de lado a engenharia e comecei inclusive a cantar no coral da UFMT. Aí me apaixonei pelo canto coral, em especial. Já cantei no Teatro Municipal e no coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP), quando ainda morava em SP. Hoje não canto mais, apenas rejo.

Blog da Condessa – Há quanto tempo atua na área musical? Quando o senhor percebeu que a música seria a sua escolha profissional e por que a opção prioritária pela regência?

Carlos Taubaté – Há 35 anos. A música entrou na minha vida ainda na infância.  Desde pequeno eu toco violão. Observava atentamente minha avó paterna que tocava muito bem e eu adorava ouvi-la. E, nesses encontros, eu sempre me aventurava no experimentar. Foi meu primeiro instrumento.

Blog da Condessa – O que mais o instiga profissionalmente?

Carlos Taubaté- Já houve um momento, principalmente quando eu residia em SP, onde a música pura, a música como fim e não como veículo artístico me desafiava, claro. Na época cantava em um dos melhores corais das Américas, da OSESP. Hoje, trabalho com o que chamo de música social. Que são os coros de empresa, onde a música é um relevante canal de cidadania, construção, do aculturamento, da sociabilidade dessas pessoas. Uma ferramenta de integração e interação nas empresas.

Blog da Condessa – Você faz live nesse período de isolamento social? Novas formas de apresentação?

Carlos Taubaté – De certa maneira possível, sim. Por exemplo, o TCE tem no seu quadro de servidores, por mero acaso, um funcionário que tem um estúdio. Ele trabalha com isso também. Então ele sugeriu a produção de um vídeo remoto com cada um gravando a sua parte da sua casa e depois juntando tudo em um trabalho hercúleo de edição. O resultado está disponível no portal do TCE/MT. Já estamos com mais dois projetos em andamento para viabilizar aí no decorrer.

Blog da Condessa – Quantos participantes inseridos no contexto musical sob tua regência?

Carlos Taubaté – O núcleo é de servidores públicos que alcança aproximadamente 120 cantores. A maior demanda de apresentações são de eventos internos produzidos por cada um dos organismos que atuo, porém há público externo também quando somos convidados a participar de festivais, corais ou mesmo por outros órgãos que não tem coral no seu quadro.

Blog da Condessa – Qual o repertório?

Carlos Taubaté – Eu gosto de variar. Claro que em todos os corais dou ênfase à música regional mato-grossense, pois creio ser uma missão promover e manter viva  a cultura local. Além disso, cantamos música erudita, jazz, música popular brasileira, étnica do mundo todo. Não há limite de repertório.

Blog da Condessa – A música coral facilmente cria ressonâncias com o público?

Carlos Taubaté – Tem uma empatia muito grande. A voz humana tem um calor muito peculiar. Claro que os instrumentos são maravilhosos também. Há uma sinergia muito grande com o público. A vida tem trilha sonora e o coral faz parte dela.

Blog da Condessa – O que é mais estimulante para você?

Carlos Taubaté – Eu gosto muito de poesia, leio todos os dias, e procuro colocar sempre no nosso repertório músicas que tenham riqueza literária. Não podemos esquecer que há uma letra envolvida.

Blog da Condessa – Como se caracteriza a sonoridade do coro?

Carlos Taubaté – Mais desafiador do que cantar é ouvir. E, pra isso, se desenvolve métodos de ensaio e de abordagem da música que vai aos poucos promovendo esse desenvolvimento auditivo do cantor.

Blog da Condessa –   A tradição e a modernidade se situam no repertório?

Carlos Taubaté – Sem dúvida. Estou sempre aberto e disposto a coisas novas. Atualizar-me é uma constante, porém com critérios e atento à música de qualidade. A MPB não está acabando, ela apenas não está em evidência nos meios de comunicação de massa. Há novos e maravilhosos talentos surgindo em canais virtuais com repertório riquíssimo, vozes lindas. Antes nos era ofertado pelo rádio, Televisão. Hoje, não mais. A nossa educação precária reflete no nosso gosto musical. É preciso buscar em outros acessos música boa.

Blog da Condessa – Reger um coral é complexo?

Carlos Taubaté – Sim. Um instrumento quando ele toca é um gesto mecânico, se aperta no lugar correto e sai o som desejado. No entanto, é preciso ter muito mais habilidade de coordenação e físicas do que no canto. O canto, na verdade, é preciso muito mais desenvolver o ouvido do que cantar. Precisa aprender a ouvir para poder emitir o som correto. Tanto é que na faculdade de Música, seja o aluno de instrumento, de canto, de regência, de composição são três anos obrigatórios de canto coral pra todos. Ou seja, o canto coral faz parte da formação do patrimônio auditivo do músico. Seja ele profissional ou amador.

Blog da Condessa – Como você percebe a influência da música em suas histórias de vida?

Carlos Taubaté – A música é minha história de vida. Faz parte da minha existência desde menino e profissionalmente há 35 anos. Como já dizia Nietzsche:  A vida sem música seria um absurdo.

Blog da Condessa – Para encerrar, uma definição absolutamente pessoal: o que é música?

Carlos Taubaté – É o som da alma humana. A música tá impressa na natureza, em tudo o que produz som. E, como eu trabalho com a música produzida  pelo homem, pela voz ela é na minha concepção o som da alma.

 

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