Saúde

A relação entre a psicologia e o envelhecimento

Vanessa de Jesus Proença, 28, é psicóloga clínica de adultos e idosos. Natural de Cuiabá, entre os anos de 2017/2019 participou do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Idoso com ênfase em Atenção Cardiovascular (PRIMSCAV) pela Universidade Federal de Mato Grosso e Hospital Universitário do Júlio Müller. Segundo Vanessa, foi uma experiência que, por diversas razões, até hoje reverbera. “O livro “Psicologia Hospitalar e da Saúde: percursos de uma residência multiprofissional da capital mato-grossense” é uma forma de comemorar, analisar, elaborar e difundir o trabalho realizado ao longo de 10 anos pelas residentes de psicologia que passaram pelo PRIMSCAV, em conjunto com o corpo docente que nos acompanharam. Junto com Aryadnne Alexya Freire, Bianca Cameschi, Naysi de Oliveira, Tamires Silva e Fernanda Cândido tive o prazer de escrever o capítulo ‘Psicologia e Envelhecimento: teoria e prática se aproximam na formação em residência multiprofissiona’”. Confira a entrevista!

Blog da CondessaComente, por favor, sobre o livro “Psicologia Hospitalar e da Saúde: percursos de uma residência multiprofissional da capital mato-grossense” e sua relevante mensagem.

Vanessa Proença – O livro traz em cena produções científicas de psicólogas residentes que atuaram junto ao Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Adulto e do Idoso com Ênfase em Cardiovascular (PRIMISCAV) que ocorre primordialmente no Hospital Universitário Júlio Müller, vinculado a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Organizado pelas psicólogas e professoras doutoras Ana Rafaela Pecora Calhao, Renata Costa e Fernanda Candido Magalhães, o livro também é um marco de uma década de atividades desenvolvidas no contexto hospitalar e da saúde na referida instituição.

Blog da Condessa – Como foi a sua experiência de escrever o capítulo “Psicologia e Envelhecimento: teoria e prática se aproximam na formação em residência multiprofissional”? Qual o propósito?

Vanessa Proença – As residências multiprofissionais em saúde têm como objetivo proporcionar ao profissional um espaço de exercício da sua prática, junto com formação (aulas, supervisões, tutorias, entre outros). Assim, o livro e o capítulo emergem da prática no contexto hospitalar e da saúde, vivido durante a residência entre os anos de 2017-2019. Em consonância com as demais autoras – Aryadnne Alexya dos Reis Bomfim Freire, Bianca Cameschi Braz, Naysi Angélica de Oliveira, Tamires Stefany de Araújo Silva e Fernanda Cândido Magalhaes – entendemos que o contexto da nossa prática exigiu pensar a teoria e a formação em psicologia para atender as demandas que o envelhecimento populacional apresenta. Assim, é um capítulo que percorre dados do envelhecimento no Brasil e em Cuiabá, como a psicologia se insere no contexto da saúde, um breve panorama do processo formativo do/a psicólogo/a que é frágil quanto às demandas urgentes sobre o envelhecimento e, por fim, sobre a formação no contexto da residência, que subsidiou a nossa prática com a população idosa no contexto hospitalar.

Blog da Condessa – Na sua percepção, qual a relação entre psicologia e envelhecimento?

Vanessa Proença – Acredito que não é só da minha percepção que se trata. A psicologia se relaciona com todas as etapas do desenvolvimento humano, sendo assim, o envelhecimento também se insere nisso. Como qualquer outra fase, quando nesse momento da vida temos demandas sociais, econômicas, físicas e também psicológicas específicas. O trabalho do/a profissional de psicologia junto a essa faixa etária visa escutar essas demandas, acolher a pessoa que idosa e, a depender da situação, englobar cuidadores – familiares ou não – na atenção ao cuidado a essa pessoa.

Blog da Condessa – O que mais a instiga profissionalmente?

Vanessa Proença – A possibilidade de me colocar a escutar de maneira ética, baseada em uma teoria científica e saber que essa escuta qualificada pode produzir efeitos importantes para cada pessoa ao longo do seu desenvolvimento. Essa função de escuta é instigante, porque ela nunca é a mesma, é singular e o tratamento vai se dando no “um a um” e não de maneira genérica, respeitando assim aquilo que é de cada pessoa.

Blog da Condessa – Como você percebe a influência da psicologia em suas histórias de vida?

Vanessa Proença – Diante do meu percurso formativo, os espaços nos quais já atuei e ainda atuo, bem como cada pessoa que já tive a oportunidade de escutar, percebo que a influência é no sentido de aprender a ser humilde, cada dia um pouco mais. E assim, aprendo arduamente, sobre o respeito ao tempo das coisas, no âmbito do trabalho e também no âmbito pessoal.

Blog da Condessa – Quais são os fatores que determinam a personalidade de uma pessoa?

Vanessa Proença – Há questões mais biológicas que determinam uma personalidade? Sim. No entanto, não dá para pensar uma personalidade descolada de aspectos culturais, sociais, políticos e educacionais, no mínimo, já que são elementos que atravessam a constituição de uma personalidade. E, para além de uma personalidade, é importante pensar em sofrimento. Cada época vai produzir as formas de sofrimento com as quais lidamos.

Blog da Condessa – É fato que ocorrem falhas na nossa trajetória formativa, sobretudo no que diz respeito à formação humana?

Vanessa Proença – O que está sendo compreendido aqui como falha? O que, na história de cada um, vai ser tomado como falha? Se pensarmos que uma vida, de maneira geral, implica sofrimento, imperfeição, falta e isso for sinônimo de falha, então sim, ocorrem e isso pode ter impacto na formação humana.

Blog da Condessa – Todo o ser humano a partir de sua infância molda o seu ego?

Vanessa Proença – De maneira geral, sim. Porém, é preciso olhar com cuidado essa questão, pois não é interessante levar tudo ao pé da letra, ou tudo como causa-efeito. Por isso que em outras questões disse sobre o “um a um”. A cada situação, a cada paciente e/ou grupo de trabalho psicológico, vai se dando a cena de constituição psíquica e assim, compreendermos como isso molda ou não o ego.

Blog da Condessa – “O egoísmo unifica os insignificantes”, como dizia William Shakespeare. Comente, por favor.

Vanessa Proença – Unifica? Será que o que é insignificante está somente vinculado ao egoísmo? Há de se questionar.

Blog da Condessa – Quando só vemos a nós mesmos, deixamos de existir?

Vanessa Proença – E se ver a si mesmo for a única maneira de existência possível para alguns? Há de se escutar. Não há formulas, nem generalizações. Ao menos busco ir na contramão delas.

Blog da Condessa – Vivemos uma época atípica, em que o individualismo reina, a solidão persevera – mesmo quando em família, no trabalho, e ainda que amigos virtuais se multipliquem. Quando nos “desconectamos”, a abstinência, o vazio existencial é inevitável?

Vanessa Proença – Penso que em alguma medida, sim. Vivemos um momento de várias fragilidades expostas e, muitas vezes, insuportáveis. Tanto no aspecto coletivo, quanto individual é importante interrogar e se colocar a escutar o que é que está acontecendo, o percurso já feito até aqui e qual lógica de vida, enquanto sociedade e sujeitos, estaremos dispostos a sustentar ou continuar sustentando.

Blog da Condessa – A cada dia são tantas tragédias, tantas monstruosidades, que nos anestesiamos e começamos a achar tudo banal, tudo “normal” e assim nos refugiamos de cegos, surdos e mudos: o problema é do outro. De que forma a psicologia pode contribuir nesse contexto?

Vanessa Proença – A psicologia contribui, justamente, no sentido de haver alguma noção de responsabilidade, dos outros e de cada um também. Para pensar sobre responsabilidade é importante considerar aspectos histórico, social, cultural, econômico. E por fim, que os aspectos citados anteriormente são atravessados por questões de raça, gênero e classe. Uma tragédia, por exemplo, não vem “do nada”, é preciso situar para conter, cuidar, tratar e elaborar.

Blog da Condessa  – Qual a principal lição da pandemia?

Vanessa Proença- A principal lição até o momento é: ela ainda não acabou!

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