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“Vamos construir o futuro sem ter saudades do mundo de ontem”

O estudioso e ministro espanhol da Universidade fala na Bienal Tecnologia: “A pandemia luta com a solidariedade entre as nações”.

A reportagem é de Annarita Briganti, publicada por La Repubblica, 15-11-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Apenas com uma verdadeira solidariedade entre os países europeus, a Europa, marcada pela pandemia, poderá se salvar e existirá também no novo mundo. A previsão é de Manuel Castells, sociólogo espanhol, professor universitário, ministro das Universidades, que fez uma palestra com opiniões pessoais na Bienal Tecnologia, organizada pela Politécnica de Turim. Atrás dele, a bandeira da União Europeia.

O professor, nascido em 1942, autor entre outros da trilogia formada por A sociedade em rede, O poder da identidade e Fim do milênio (Paz & Terra) e La città dele reti (Marsilio), não nega a dificuldade de momento.

“Depois de anos de cortes irresponsáveis na saúde pública, para seguirmos a política de austeridade, não conseguimos enfrentar essa emergência sanitária. Não temos recursos suficientes, não temos instalações suficientes, não temos sequer preparação suficiente. Cortamos o financiamento no setor mais importante”, declara Castells, que convida a Europa a não se deixar destruir pelo Covid, inclusive do ponto de vista político.

Segundo o professor, o vírus aumenta o risco de que partidos de extrema direita e xenófobos avancem mais e aumenta o perigo de desordens sociais, pressionando uma União Europeia que nos primeiros estágios da pandemia se mostrava incerta. “A solidariedade entre as nações é uma necessidade. A Europa precisa relançar a economia”, acrescenta o sociólogo, que também destaca como a pandemia possa levar muitos cidadãos a deixarem de acreditar em governos, nos partidos e nos políticos.

Cauteloso sobre vacinas e tratamentos – “Precisamos de ciência e paciência”, diz -, a palestra de Castells também enfoca “Para além da nostalgia. O mundo pós-pandêmico”, como informa o título do encontro. “O que seremos depende do que fizermos agora”, declara o professor, que não faz previsões que obteriam fáceis consensos.

“O ser humano vai sobreviver, mas agora é impossível dizer quando, como e a que custo” defende o estudioso, que no entanto tem ideias claras sobre o que não se deve fazer: “Não devemos sentir saudades do velho mundo, em que vivemos apenas alguns meses atrás. A nostalgia não ajudará na reconstrução. Qualquer forma de nostalgia esquece as características destrutivas do mundo anterior. Os seres humanos tendem a se defender esquecendo o que aconteceu e procurando um remédio para encontrar uma nova esperança para um novo mundo”.

O guru da Rede também aponta como uma sociedade global baseada em tal mecanismo se viu obrigada a interromper as redes entre os seres humanos, presenciais, enquanto era salva pela tecnologia. No que tudo isso vai se traduzir, de acordo com Castells? Entre as mudanças que menciona, que se referem aos dilemas do momento – a relação entre saúde e economia e entre saúde e vida social nas democracias -, o sociólogo enfoca em particular a crise das metrópoles. Aquelas concentrações de muitas pessoas em um espaço pequeno, como ele as define, que estão se despovoando: se com o smart working se pode trabalhar de qualquer lugar do mundo, e o mesmo vale para o estudo com o ensino a distância, por que ficar em cidades poluídas e caras onde é difícil criar os próprios filhos? “Poderíamos tanto retroceder, neste e em outros fenômenos, como por exemplo a queda do turismo, como também não. Espera-se uma crise econômica devastadora para as companhias aéreas”, afirma Castells.

Mas tudo não está perdido. “Quando as pessoas passam por esse tipo de experiência, elas redescobrem o valor da vida, apreciam a vida pelo que ela é, sem se perder em falsos valores, materiais. Elas sentem-se gratas por estarem vivas e poder se mover livremente. Apreciam a família e os amigos, a possibilidade de beber alguma coisa com os amigos ao ar livre”, finaliza. “Só o tempo dirá se, como seres humanos, teremos merecido esta segunda chance”.

 

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