Mundo

“Mundo pós-pandemia”

 

Mais de 165 mil pessoas participaram de uma consulta

Entre as catorze ideias consideradas prioritárias figuram o desenvolvimento de circuitos curtos, a adoção da agroecologia e a relocalização de produções estratégicas.

Mais do que nunca, os cidadãos se envolveram na construção do “mundo pós-pandemia”. A consulta “Como podemos inventar juntos o mundo pós-pandemia?”, lançada em 10 de abril por várias organizações, incluindo o WWF France, a Cruz Vermelha ou a Make.org, reuniu nada menos que 165 mil participantes, que elaboraram 20 mil propostas e realizaram 1,7 milhão de votações. Os resultados, publicados nesta quinta-feira, 28 de maio, mostram o desejo de um futuro mais ecológico e mais focado na produção local. Eles estão na mesma linha da consulta “O dia seguinte”, lançada por 66 parlamentares e concluída em meados de maio.

Entre as catorze ideias que consideraram prioritárias, os cidadãos que responderam à consulta declararam-se a favor do consumo local, com o desenvolvimento de circuitos curtos, e da diminuição das importações, de modo especial através da taxação da quilometragem percorrida pelos produtos. Eles também querem a prática de uma agricultura e de uma pecuária “alternativas”, mais locais e menos intensivas, baseadas principalmente na agroecologia ou na permacultura, e a utilização de menos produtos fitossanitários.

Eles também defendem a limitação da produção de lixo, em particular as embalagens e o plástico descartável, e o incentivo à reciclagem. Eles são a favor da relocalização na França e na Europa de todas as produções consideradas estratégicas, especialmente nos setores da saúde, dos alimentos e do têxtil. Eles querem desenvolver as mobilidades ecológicas (transporte público, carona solidária, bicicleta) e reduzir o transporte rodoviário e aéreo de mercadorias em benefício do transporte ferroviário.

Modificação radical do modelo econômico

Por fim, querem um espaço urbano mais verde, proteger melhor a biodiversidade, conhecer e remunerar melhor as profissões consideradas essenciais (professores, agricultores, caixas, caminhoneiros, cuidadores…), proporcionar mais recursos aos hospitais, desenvolver uma democracia mais participativa ou ainda modificar radicalmente o modelo econômico.

Por outro lado, algumas propostas não foram mantidas por serem consideradas muito controversas, como o estabelecimento de uma renda universal, a proibição da implantação do 5G, a redução do tempo de trabalho semanal ou o abandono da energia nuclear.

“Esta consulta mostrou um alto grau de envolvimento da população, alegra-se Axel Dauchez, presidente da Make.org. A taxa de propostas, quando reduzida ao número de participantes, é cerca de dez vezes maior que a de outras consultas de nossa plataforma”.

De resto, o WWF compromete-se a “traduzir as expectativas dos cidadãos em medidas mais detalhadas, modelizar seu impacto socioeconômico (especialmente em termos de manutenção e de criação de empregos) e avaliar as necessidades de investimentos necessários para implementá-las”, explica Pierre Cannet, diretor do setor jurídico da ONG. A ideia é entregar as medidas ao Presidente da República e ao governo até o final de junho, com a ideia de que elas sejam integradas ao plano de retomada da economia prevista para o outono.

“Plano nacional de retomada sustentável da economia”

É justamente aqui que reside o principal desafio para as dezenas de consultas à população lançadas desde a crise da Covid-19: como elas podem ter um peso na política? Diferentemente da convenção cidadã sobre o clima, que tem um mandato oficial e recebeu o compromisso de Emmanuel Macron de ver suas propostas serem transmitidas “sem filtro”, as outras plataformas não sabem se os resultados de seus trabalhos serão levados em consideração e como.

“Existe o risco de que essas muitas plataformas permaneçam letras mortas politicamente, o que pode desacreditar os processos da democracia participativa”, adverte Mathilde Imer, uma das criadoras da “Nous les premiers”, nome de uma tribuna dirigida a Emmanuel Macron e que reúne autoridades eleitas locais e atores da sociedade civil, que se propõe a reunir todas as consultas cidadãs.

“Nous les premiers” convida para fazer uma síntese das consultas, o que poderia ser feito, por exemplo, pela Comissão Nacional do Debate Público. Esta síntese poderia, na sequência, ser usada para definir um “plano nacional de retomada sustentável da economia” através de um processo deliberativo do tipo Grenelle ou Assembleia Cidadã.

A reportagem é de Audrey Garric, publicada por Le Monde, 28-05-2020. A tradução é de André Langer.

 

 

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