Cultura

“Um século de agora”

Artistas mato-grossenses participam de grandiosa exposição do Itaú Cultural, em São Paulo

Mato Grosso está fortemente representado na mais nova exposição temporária do Itaú Cultural, em São Paulo, aberta no último dia 17: “Um século de agora”. A proposta da exposição é repensar a arte 100 anos depois da Semana de Arte Moderna. O Estado se faz presente compondo a curadoria, por meio da pesquisadora Naine Terena de Jesus; e com dois representantes dentre os 25 artistas ou grupos selecionados: a renomada artista plástica Dalva de Barros e o Coletivo Mato Grosso, formado pelos multiartistas Ruth Albernaz, Paty Wolff e Téo de Miranda.

“Um século de agora” é a última exposição de grande porte de 2022 do Itaú Cultural (ocupando três pisos), é coletiva e faz uma releitura da Semana de Arte Moderna, expandindo horizontes e trazendo novas narrativas, a partir da proposta de contemplar identidades sociais preteridas na iniciativa do século passado. A maioria das obras é deste ano e questiona noções de tempo, história, tradição e nação, no atual contexto brasileiro.

“Nossa intenção não é revisitar a semana de 1922. É pensar 2022. E, para isso, os artistas foram convidados, para nos dizerem o que fazem ou gostariam de fazer agora, nos lugares onde estão”, explica Naine, artista e pesquisadora indígena cuiabana, que compõe o experiente trio de curadoras, ao lado da sergipana Júlia Rebouças e da baiana Luciara Ribeiro.

As obras da pintora Dalva de Barros e a instalação do coletivo formado por artistas que se encontraram em Mato Grosso dialogam com outros 23 artistas visuais e grupos de outros dez estados. São mais de 70 obras, construindo uma grande rede de multiplicidades de regiões, de idades e de vivências sociais e políticas, pensando sobre a atualidade, o agora.
Foram selecionadas pelo trio de curadoras as telas de Dalva de Barros ‘Missa para Alcides’ (1980), ‘Almoço dos garis’ (1994), ‘Brasil 500 anos (nada temos)’ (2000), ‘Profissionais da saúde – a verdadeira eucaristia II’ (2021) e Fila dos ossinhos (2022); e a instalação do Coletivo Mato Grosso ‘Agora quando!?’

“Dalva de Barros é um grande nome, pulsante em produção. Falar do agora significa também trazer essas pessoas históricas. Sobre o Coletivo Mato Grosso, lancei um desafio aos três artistas, sobre o que poderiam fazer juntos a partir das trajetórias individuais, mas também do território”, contextualiza Naine.

A mostra, com expografia assinada pela arquiteta Isa Gebara, é presencial e fica aberta à visitação gratuita até 2 de abril de 2023, sempre de terça a sábado, das 11h às 20h e aos domingos e feriados, das 11h às 19h.

O Coletivo Mato Grosso

Os artistas Ruth Albernaz, Paty Wolff e Téo de Miranda já se conheciam de outros trabalhos, mas se organizaram enquanto coletivo especialmente para participar da exposição “Um século de agora”, desafiados pela curadora Naine Terena, que vislumbrava justamente a mistura de técnicas e trajetórias de cada um deles para imprimir na proposta de contemporaneidade das artes e identidades mistas.

O nome da instalação, por sua vez, é uma expressão do linguajar cuiabano que denota espanto, estranhamento. E, para este trabalho, além da força da regionalidade, expande a proposta e se ressignifica diante de tantos ‘agoras’ possíveis e convida para a reflexão da urgência de se repensar as relações humanas.

Para compor a instalação ‘Agora quando!?’, agregaram saberes. “O Téo, com a linguagem da fotografia e do audiovisual; a Ruth e eu com as pinturas”, contextualiza Paty Wolff, acrescentando que as peças usadas foram propostas pelos três.

A obra é uma mesa posta, com pratos, copos, cumbucas e outros materiais que remetem às artes mato-grossenses, como as cerâmicas cuiabanas, bem como as significâncias de cada um do trio, a exemplo dos bancos, memórias de família. Como explica Ruth Albernaz, trata-se de um trabalho desenvolvido “a seis mãos, uma instalação única, onde a gente mistura as nossas narrativas, as nossas materialidades”.

Téo de Miranda relembra que a ideia de releitura de uma ‘mesa posta’ surgiu em um almoço que reuniu ele, Ruth e o escritor indígena Ailton Krenak, um bate papo ao redor de uma mesa. Aquele momento permitiu a reflexão sobre quantas manifestações culturais há em reuniões e no ato de alimentar-se. “Estávamos buscando formas de quebrar com essa lógica destrutiva do capitalismo predatório e da utilização dos recursos naturais”, propõe o profissional do audiovisual.

A instalação busca materializar as subjetividades dos três envolvidos e ultrapassa as técnicas de cada um: Ruth, uma artista-bióloga cabocla; Paty, uma mulher preta; e Téo, muito próximo das temáticas ambientais e dos povos indígenas. “Minha infância foi na zona rural e minha vivência é toda ancorada no conhecimento caboclo, dos saberes e práticas daquele território não urbanizado”, conta Ruth, enquanto que Paty acrescenta que levou para o trabalho a “busca pelas minhas raízes, pela minha ancestralidade”.

Sobre esse encontro, Téo, que nasceu em São Paulo, mas mora em Mato Grosso desde os quatro anos de idade, resume que “o grupo é uma junção de pessoas de diferentes lugares que se encontraram em Mato Grosso”, incluindo a Paty, de Rondônia, “com exceção da Ruth, que sempre morou aqui”.

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