Cultura

“A dança cigana é um universo de movimento, improviso e sentimento”

O uso do corpo de forma expressiva remonta aos primórdios da humanidade, quando nos juntávamos em grupo à volta da fogueira para comunicar, sem haver ainda grande repertório verbal. A expressão pelo movimento era, na altura, um meio privilegiado de comunicação. Desde 2015 que Léa Baracat se dedica a dança cigana. Sua última apresentação aconteceu em dezembro do ano passado, no Sesc Arsenal, no lançamento do livro Uma Janela Espia –Um Outro Lado da Sua Mente,  do poeta do Cerrado , Márcio Mendes, que é marido de Léa. A dançarina e instrutora de dança  cigana é servidora pública estadual formada em Letras e Pedagogia Social – elaboração de Projetos com pós graduação em Gestão Pública.

A dança sempre fez parte da sua vida, desde quando pequena. “Sempre gostei muito de música. No final da década de 80 quando a lambada estava no auge, principalmente a Kaoma, meu tio Adib Baracat era adepto do ritmo e tocava. Inclusive, dizíamos na época que ele era o rei da lambada de Várzea Grande. Lembro que foram muitos momentos de dança, música e diversão na sua casa. Reunia-se toda a família e eu recordo com nostalgia de dançar muito. Já em 2001, eu na adolescência, com a novela O Clone no ar, decidi praticar a dança do ventre”, conta Léa.

Na sequência, se apaixonou por essa arte milenar-a dança cigana. Iniciou então os estudos na Gennime Ballet, em Várzea Grande. “Lá aprendi os primeiros passos e daí por adiante estive com outras professoras incríveis.  Também fiz flamenco, uma arte potente de origem cigana. Me encantei e comecei a frequentar as aulas, em 2010, com a Denise França. Antes desse período eu parei por aproximadamente quatro anos de dançar para fazer a faculdade de Pedagogia. No entanto, sentia latente a ausência do movimento que a dança representa juntamente com improviso, alegria, técnica”, recorda a dançarina

. Um universo onde se expressa o sentimento. A dança é muito performática. A sinergia do corpo, mente e alma. Além dos movimentos corporais, a coreografia, o espaço, o tempo. Conforme Léa Baracat, é muito interessante todo o processo que envolve, essa interface.

A dança trabalha o controle corporal, podendo ter até uma finalidade terapêutica; potencializa a criatividade e pode expressar nosso estado de espírito. “A arte refina, apura o espírito humano. A dança, em tempos difíceis como os agora vivenciados, funciona como uma terapia. Há muito sofrimento psíquico e emocional, e a dança nesse contexto é um recurso terapêutico que ameniza. A prática tem uma dimensão muito grande. Não é só corpo, é mente, emoção. Tudo ligado”, observa Baracat.

Para ela, sinônimo de dança cigana é o improviso. Poder expressar a alegria. A dança nos promove a harmonização, nos elevando, ajudando o despertar do divino interior que cada um de nós carrega dentro de si. “A energia que emana da dança é contagiante. Poder passar todas essas sensações e sentimentos através das aulas e dos workshops da dança cigana artística é gratificante”, frisou.

Dança para espantar males. Dança para criar magia. Dança para dizer e dança para calar. O universo da dança cigana é amplo e variado. Os ciganos se espalharam pelo mundo. “Temos a dança cigana da Índia, da Rússia, do Iraque. Temos o flamenco que possui uma influência muito forte dos ciganos. São vários povos que influenciaram e foram influenciados pelos ciganos que tem essa característica de manter a tradição. Percebemos por exemplo na dança cigana russa a forte influência do folclore russo”,ressaltou.

A pluralidade da dança

Léa está com um projeto cultural chamado “Entre sueños y duende:  a contribuição histórico cultural dos ciganos para a humanidade. Sobre a nomenclatura adequada da dança: dança no estilo cigano ou dança cigana artística. O espetáculo é uma criação coletiva. “Este projeto nasceu do meu desejo e da Vânia Ormond, minha parceira de dança, em dar oportunidade e ao mesmo tempo mostrar a contribuição dos ciganos, bem como para desmistificar algumas questões que infelizmente vem se arrastando ao longo dos séculos com todas as discriminações que sofrem os ciganos. Além disso, o objetivo do projeto, por meio das artes integradas (dança, música, poesia, da performance em si) é mostrar essas contribuições preciosas e valiosas dos ciganos para a humanidade”, destacou a dançarina.

Qual o poder da dança?

Sintonia com os sentimentos profundos, intensos. A sintonia interior. Uma elevação da nossa própria capacidade. Um auxílio na própria autoestima.

O que mais a fascina é a criatividade que envolve o movimento cênico. A capacidade do improviso que a dança cigana artística propicia. “Como a dança cigana artística é uma expressão cênica e estamos em um espaço cênico. existe uma técnica para refinar os movimentos. Toda dança de palco requer uma técnica, além do improviso e criatividade”, salientou Léa.

“No próximo sábado (1/8) farei uma live no meu instagram com um módulo gratuito onde vou mostrar de uma forma breve e resumida as danças ciganas e a dança cigana artística. Na sequência, a ideia é abordar a dança cigana sistêmica”, disse. Léa já conduziu um projeto de arte/terapia e se dedica hoje ao estudo da dança cigana sistêmica como recurso terapêutico, o que será abordado nos módulos sequentes.

“A dança é transformadora. Ela faz você dar um mergulho dentro de si”, conclui Léa Baracat.

 

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