Cultura

“A arte nos eleva ao estado lúdico, metafórico, metafísico, simbólico e divino”

O versátil ator cuiabano Romeu Benedicto, 55, criador do personagem “Totó Bodega” apresenta hoje (24/8), às 19h30, ‘Totó Bodega Causos Rio Abaixo Rio Acima’. A prosa é com Mano João da Varginha, o Homem que aloitou  com o Lobisomem. Confira no instagram @totododega7

Romeu Benedicto revela que ‘Causos Rio Abaixo Rio Acima é simplesmente uma prosa. “A língua de um povo se materializa pela oralidade”, observa. Nessa entrevista ao Blog da Condessa, Romeu fala sobre a arte, suas nuances e poder. Comenta ainda sobre sua carreira artística que começou aos 18 anos. Ele ficou conhecido com o personagem cuiabano Totó Bodega que surgiu no ano 2000 na comédia “Quebra Gaio “escrita e dirigida por J. Astrevo Aguiar e encenada por Nico e Lau, mas desde a década de 80 já atuava profissionalmente em peças de teatro e também cinema com participações em sete curtas metragens e três longas e já foi premiado no Festival de Cinema de Mato Grosso como ator revelação. Soma experiências em cinema, televisão, rádio, circo e temporada na Europa. “Comecei a fazer teatro ainda na adolescência. Nesse caminhar me descobri. Acumulei experiências e vamos imprimindo nosso tempo”. A seguir, a entrevista!

Blog Da Condessa – O que o público pode esperar do “Totó Bodega Causos Rio Abaixo Rio Acima” que estreia hoje, 24/8, às 19h30 no instagram @totododega7?

Romeu Benedicto – É um projeto antigo. Existe desde 2019 com formato ‘in loco’ com a proposta de gravar nos locais, mas devido à pandemia foi adiado. Agora, vamos fazer da forma que é possível.  O objetivo desse trabalho é uma prosa. Simplesmente uma prosa. Será uma  live, no instagram,  de aproximadamente 30 minutos.  Uma conversa com pessoas naturais.  São personagens reais. E, através dessa conversa, estaremos passando várias informações subliminares, principalmente relacionadas a nossa cultura. A cultura é a identidade de um povo. O público pode esperar do ‘Causos Rio Abaixo Rio Acima” histórias, estórias criadas, inventadas,  lendas, e o linguajar do povo – que considero o principal enfoque  nesse quadro que é como eu denomino ‘Causos Rio Abaixo Rio Acima’. Todo mundo tem na sua comunidade um contador.  A língua de um povo se materializa pela oralidade. Nesse contexto será possível identificar a inventividade, a criatividade do nosso povo, a musicalidade da fala, a característica cultural alegre, o espírito infantil, a disposição em olhar a vida, o ambiente de forma positiva, harmoniosa,  lúdica. Então, ‘Rio Abaixo Rio Acima’ são todas as comunidades ribeirinhas que margeiam o  nosso rio Cuiabá que hoje está sendo ameaçado com a construção de seis usinas. Além do objetivo de entretenimento, cultural e lúdico há o contexto social.

Blog da Condessa – Comente, por favor, sobre “A prosa é com Mano João da Varginha, o Homem que aloitou  com o Lobisomem”.

Romeu Benedicto – É um conto em que Mano João – um morador de Varginha, uma região próxima a Santo Antônio de Leverger às margens do rio Cuiabá- revela seu encontro com o lobisomem. Vale ressaltar que Varginha é uma comunidade muito interessante. Um povo artístico. Mano João tem todas as características do povo ribeirinho, um povo simples e de um linguajar simples.

Blog da Condessa – Pra você interpretar, fazer humor é sinônimo de?

Romeu Benedicto – De vida. De dizer ao mundo a que viemos. Fazer humor é uma forma que encontramos de externar, de expressar a nossa cultura, nosso povo, nossa identidade. Levar alegria. Fazer o povo brasileiro conhecer o nosso linguajar.  É o Totó Bodega que ensina o cavalinho do Fantástico a falar o cuiabanês.  O nosso linguajar é único no mundo e eu me considero um conhecedor e admirador profundo.

Blog da Condessa –  Comente, por favor,  sobre o começo de sua carreira artística.

Romeu Benedicto – Já na infância, nas festas de família, eu imitava o  Didi (Os Trapalhões), o Jerry Lewis, O gordo e o magro, Charles Chaplin e outros artistas do humor. Percebi que as pessoas se divertiam e fui me afirmando através do  comportamento das pessoas e certamente isso vai contribuindo pra nossa formação. Na sequência, já adolescente, comecei a me envolver com teatro. Participei de diversas oficinas na UFMT, festivais de música.  Em 1997 ganhei o prêmio de melhor ator no Festival de Teatro de Mato grosso com a peça ‘Pessoa Por Pessoa’, uma adaptação coletiva da obra poética de Fernando Pessoa.  Depois no monólogo “Belarmino e o Guardador de Ossos”, texto do escritor mato-grossense  Ricardo Guilherme Dicke, adaptado e dirigido por Amauri Tangará e em “O Salário dos Poetas” do mesmo autor, com dramaturgia europeia assinada por João Brites e Amauri Tangará.  Uma época efervescente.  Ganhei prêmios.  Fiz uma longa temporada de teatro na Europa. Já o humor começou em minha vida no ano de 2000 quando participei da peça do Nico e Lau e criei o personagem Totó Bodega. Já as  novelas apareceram concomitantemente. Quando voltei da Europa parei no RJ e bati na porta da Globo, quando consegui minha primeira participação na minissérie Carga Pesada. Na sequência, a novela Da Cor do Pecado, Malhação, Começar de Novo, Belíssima, Duas Caras , Cordel Encantado, Deus Salve o Rei e outras. Já estou com convite para uma  próxima novela que vai estrear em outubro. Também tenho feito bastante cinema aqui em Mato Grosso, principalmente depois da Lei Aldir Blanc. Vou gravar um longa agora em setembro. Tem um curta que será lançado em que contraceno com Vera Capilé. Um drama. Minha vida artista é recheada de todas essas vertentes: teatro, cinema, da comédia, do humor.

Blog da Condessa – O que mais o instiga profissionalmente?

Romeu Benedicto – A pesquisa do personagem. A busca sobre quem ele é, como age, o raciocínio, fator histórico, contexto político, familiar, social e cultural.

Blog da Condessa – O humor, a atuação facilmente cria ressonâncias com o público?

Romeu Benedicto – Sim. Creio ter muito mais a ver ser tocado pelo público do que tocar. Essa troca de energia é a essência, o combustível e faz com que todas as ações, expressões se propaguem. Essa ressonância existe, é real e fundamental para que o teatro aconteça.

Blog da Condessa – Muitas adversidades no início da carreira?

Romeu Benedicto – Muitas. Foi difícil assumir o teatro na minha vida, até pela criação rígida, pela época. Meu pai, militar, não me  poiou. Tive dificuldades, rompi barreiras. Inclusive, fiz concurso público para poder manter minha família. Sou casado há 33 anos e tenho dois filhos. Admiro muito meus colegas de teatro, pois é complicado viver de arte em Mato Grosso. Já a adversidade hoje é a necessidade de se reinventar, e o teatro nesse processo está cada vez mais forte, vivo e necessário.

Blog da Condessa –  Você acredita na tríade: talento, técnica e humildade?

Romeu Benedicto – Vejo assim. Antes de tudo é preciso estudar. Não basta só ter talento. O esforço é fundamental para o sucesso, bem como a rotina, perseverância, persistência e a disciplina. Já a humildade é um traço do caráter. Na sequência, vem a técnica. No palco não existe vaidade. Uma coisa que o teatro ensina é dividir cena. Há momentos que você precisa ser mais e em outros menos,  e assim é na vida. É preciso ter generosidade.

Blog da Condessa – Qual o poder da arte?

Romeu Benedicto – A arte tem o poder de ressignificar uma vida. Ela imprime a nossa sociedade, o nosso tempo. A arte cura, muda, educa, salva. Em tempos de pandemia, vimos o quanto a arte é essencial. A arte é humanidade.

Blog da Condessa –  Qual foi o fator principal que o levou à atuação?

Romeu Benedicto – Acho que o fato de não ter que me aposentar (risos). A atuação, a arte da dramaturgia é eterna. Você vai se encaixando nos personagens da vida ao longo da sua existência.

Blog da Condessa -A arte tem, por uma de suas metas, refletir o contexto social de sua época. Como ela se caracteriza nos tempos atuais e o que estaria refletindo sobre o mundo em que vivemos?

Romeu Benedicto – A arte sempre foi um movimento de resistência. E hoje não é diferente. Atacada desde sempre. Foram retiradas várias ferramentas da arte, do artista de sobrevivência. Assim como leis, espaços, censura, inclusive atualmente temos sofrido isso. No entanto segue viva e presente. As tentativas de diminuir a arte, minimizar a sua importância na vida das pessoas não obtiveram êxito. Não se tira a relevância de algo que é uma representação do divino, da alma humana. A arte faz parte da formação da psique das pessoas. Quando a pessoa aprecia uma arte ela sai do estado terreno e vai para o estado lúdico, metafórico, metafísico, simbólico e divino.

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