Cotidiano

“Oceano sem Mistérios: A relação dos brasileiros com o mar”

Pesquisa revela que 45% dos moradores do Centro-Oeste nunca foram à praia

Estudo pioneiro da Fundação Grupo Boticário, UNESCO e Unifesp mostra ainda que a maioria dos moradores da região nunca visitou ambientes marinhos como dunas, costões rochosos, manguezais, falésias e recifes de corais. As atividades preferidas dos moradores do Centro-Oeste quando estão próximos do mar são mergulhar e tomar banho de mar (29%), andar na praia (23%), praticar esporte (14%), aproveitar a gastronomia local e admirar a paisagem. Em escala de 0 a 10, a intenção de mudar hábitos pelo bem do oceano entre moradores do Centro-Oeste atinge a média de 7,6.
Mais de 7,2 milhões de moradores de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal nunca visitaram uma praia. Os números, que representam 45% da população do Centro-Oeste, fazem parte da pesquisa “Oceano sem Mistérios: A relação dos brasileiros com o mar”, publicada pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, em parceria com a UNESCO e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O estudo revela que em todo o Brasil mais de 20 milhões de pessoas nunca estiveram em uma praia, representando cerca de 10% da população nacional.

A pesquisa realizada em 2022 ouviu 2 mil pessoas, homens e mulheres entre 18 e 64 anos, de todas as classes sociais, em municípios das cinco regiões do país. O resultado foi apresentado durante a Conferência dos Oceanos da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em julho, em Lisboa, Portugal.

“O estudo nos permite compreender a relação das pessoas com ambientes costeiros e marinhos em todo o país e perceber como a sociedade entende a influência do oceano no seu dia a dia. Em um país com dimensões continentais como o nosso, é muito importante conhecer também as particularidades de cada região”, explica Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário. “Entendemos que há uma grande lacuna de conhecimento sobre o oceano e seus ambientes. O turismo responsável pode ser uma ferramenta estratégica nesse processo de conscientização e engajamento, mas precisamos que todos entendam que a nossa conexão com o oceano já existe, independentemente de estarmos ou não próximos do mar”, completa Malu.

O nível de conhecimento e a frequência das visitas a outros ambientes costeiros e marinhos existentes no Brasil, além das praias, são ainda menores. Entre os moradores do Centro-Oeste, costões rochosos foram visitados por 33% da população, seguidos pelas restingas (23%), manguezais (22%), dunas (21%), estuários (19%), recifes de corais (16%) e falésias (13%). A pesquisa mostra que pessoas com nível de escolaridade até o ensino fundamental e com renda mais baixa visitaram menos os ambientes marinhos em comparação com entrevistados que declararam possuir ensino superior completo e renda mais alta.

Além da distância do litoral, o resultado também pode ser reflexo da falta de informação sobre os ambientes costeiros, sem reconhecer e diferenciar os variados ecossistemas. A pesquisa mostra que a maioria da população pouco se informa sobre os ambientes marinhos. Os brasileiros que raramente ou nunca buscam informações sobre o oceano somam 47%. Por outro lado, as pessoas que sempre buscam se informar sobre o tema representam 27%, enquanto 6% têm o hábito de se informar a maioria das vezes e 14%, às vezes.

Turismo responsável

Os hábitos e comportamentos das pessoas quando estão próximas ao mar também foram questionados pelo estudo. A maioria da população brasileira – 61% – afirma sempre praticar o turismo responsável, enquanto 7% declararam que a prática ocorre na maioria das vezes. O porcentual de pessoas que afirmam praticar o turismo com responsabilidade às vezes, raramente, nunca ou que não soube responder, somado, chega a 32%.

As atividades preferidas dos moradores do Centro-Oeste quando estão próximos do mar são mergulhar e tomar banho de mar (29%), andar na praia (23%), praticar esporte (14%) e aproveitar a gastronomia local e admirar a paisagem, ambos com 13% das menções. Aparecem também entre as atividades mais lembradas tomar banho de sol (6%), brincar na areia (5%) e relaxar (4%).

“O turismo em áreas naturais tem grande força no Brasil, atraindo brasileiros e estrangeiros. Nosso país é reconhecido pelas belas paisagens e praias. Entender como esse turismo ocorre é de extrema importância para inibirmos a prática predatória, que coloca em risco ecossistemas e a biodiversidade. Esse resultado destaca o desafio de desenvolver uma cultura oceânica que engaje e demonstre como isso pode ser feito, reforçando como este ambiente influencia e é influenciado pelas ações da sociedade”, afirma Fábio Eon, coordenador de Ciências da UNESCO Brasil.

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