25 de outubro de 2025 - 10:21

Da Terra ao Copo: A trajetória de Maria Antonia e a Cervejaria Cabocla Serrana

A minha história com a comunidade Cinturão Verde começou em 2003, quando fui convidada a participar do projeto Banco da Terra. A proposta era simples e poderosa: conquistar um pedaço de chão para produzir de forma agroecológica e criar nossos animais de pequeno porte. Foram anos de reuniões, sonhos e muito trabalho até que, em 2008, meu esposo foi sorteado com o nosso sítio. Lembro com carinho das primeiras etapas. Ajudei a medir o assentamento, puxando trena e carregando garrafas térmicas de água.  Sempre brinco dizendo que conheço a comunidade “palmo a palmo”, porque realmente ajudei a medir cada pedacinho daquele território. Em 2009, tomamos posse definitiva da terra e nos tornamos os primeiros moradores da Comunidade Cinturão Verde.  Os desafios foram muitos, mas com sabedoria e perseverança, enfrentamos cada um deles. No mesmo ano, decidi estudar no IFMT, no curso técnico em Agropecuária com ênfase em Agricultura.
Foi um divisor de águas. Formei-me em 2010 e, com o conhecimento adquirido, nossa produção começou a prosperar. Logo passei a vender o excedente na cidade.
Em 2017, participei de uma formação em Economia Solidária, promovida pela Unemat. Dela nasceu a Feisol – Feira de Economia Solidária, da qual tenho orgulho de ser coordenadora desde 2018.
Mas foi em 2018 que uma nova paixão nasceu. Fui convidada para o projeto Tereza de Benguela, do IFMT Campus Cáceres – Prof. Olegário Baldo, no curso técnico de Preparadora de Cervejas Artesanais. Concluímos o curso em agosto de 2019 e, a partir dele, surgiu a ideia de formar um grupo de mulheres produtoras da cerveja Cabocla Serrana.  Nossa primeira venda aconteceu em 7 de setembro de 2019, durante a tradicional Festa do Frango, aqui na comunidade. No começo, a produção era cigana, cada produção era feita na casa de uma das integrantes. Começamos em 18 mulheres e atualmente seguimos em duas, eu e Maria de Lurdes da silva conhecida como Dona Onça. Produzir cerveja exige amor, paciência e dedicação. Aos poucos, consegui construir a Casa da Cabocla Serrana, que hoje funciona aqui na minha propriedade do Cinturão Verde. Seguimos produzindo em pequena escala, mas com muita qualidade. Nossos estilos são Pilsen, Blond Ale, APA, IPA, Bocaiúva e a especial Cerveja Pantaneira de Manga. Os insumos vêm da natureza: água mineral de uma fonte na Serra do Facão, malte, lúpulo e leveduras. As versões frutadas têm um toque especial. As cervejas de Bocaiúva e Manga são feitas com polpas cultivadas aqui mesmo. A de manga, em especial, tem uma história afetiva: a fruta vem de uma mangueira nascida do caroço deixado por meu afilhado ainda bebê. O aroma é tão intenso que até o caule exala cheiro de manga — e é dela que nasce o sabor único da nossa cerveja pantaneira. Além da produção, já recebi alunos do IFMT e da Unemat para oficinas de degustação e produção de cervejas e refrigerantes naturais feitos com sucos de frutas da propriedade.
Este ano, fomos agraciados com o projeto de Extensão de Turismo de Base Comunitária (TBC) coordenados pela Dra.Profa Liliane Cristine Schlemer Alcantara da Universidade Federal de Mato Grosso/UFMT   e pesquisadora da CAPES e doutoranda do Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais – PPGCA/UNEMAT Gisa Reis, esse projeto veio ao encontro dos anseios da nossa comunidade que há muito tempo vem desejando implementar o turismo na região. Acredito que unir o turismo  à produção artesanal de cervejas e outras bebidas é um caminho para fortalecer o território, valorizar os saberes locais e celebrar a história de quem cultiva, produz e transforma com respeito tudo o que a natureza nos oferece.

*Maria Antonia Rolon de Souza, é mãe, esposa, mulher empreendedora e uma das  protagonistas do Turismo de Base Comunitária na Comunidade Cinturão Verde/Facão em Cáceres (MT). Foi uma das primeiras moradoras do assentamento e se formou técnica em agropecuária pelo IFMT. Coordena a Feisol – Feira de Economia Solidária e fundou a Cervejaria Cabocla Serrana, referência em produção artesanal. Atua promovendo sustentabilidade, saberes locais e valorização da cultura pantaneira.

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