Gastronomia

Flexitarianismo: o que é tendência que pode ser ‘degrau’ para quem quer virar vegetariano

Tendência que vem ganhando popularidade entre jovens nos EUA, o flexitarianismo é visto como alternativa de consumo alimentar para quem deseja diminuir o consumo de carne motivado por questões ambientais, animais e/ou de saúde. Normalmente, seus adeptos deixam de ingerir alimentos de origem animal pelo menos uma vez por semana.

A proposta central do flexitarianismo é ter uma alimentação flexível e reduzir — em vez de excluir — o consumo de alimentos de origem animal, priorizando a ingestão de vegetais, como verduras e legumes.

Mais fácil de ser seguida do que o vegetarianismo, o flexitarianismo é considerado um caminho de transição para quem cogita virar vegetariano no futuro.

“Essa dieta gera menos incômodo para o corpo e para a mente”, explica a nutricionista Roberta Brito, residente do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba (HULW-UFPB), vinculado à rede Ebserh.

De acordo com a especialista, muitas pessoas tentam se tornar vegetarianas, mas desistem no meio do caminho. “E o flexitarianismo garante a transição de um jeito menos radical, porque o vegetarianismo às vezes assusta”, diz Brito.

“Nós podemos ter grupos que reduzem só a carne vermelha, outros que comem menos peixe e outros que têm uma preocupação geral para todos os tipos de carnes. A frequência com que as pessoas reduzem a carne também varia. Pode ser uma vez por semana ou até várias. Mas não existe uma definição clara e universal”, explica Michelle Jacob, pesquisadora, doutora em ciências sociais e professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

‘Não é só preço’

A jornalista gastronômica e empresária Ailin Aleixo se define como flexitariana. Ela diminuiu muito o consumo de alimentos de origem animal há cerca de 10 anos, quando começou a pesquisar e a visitar a produção de ovos, leite, carnes e afins.

“Visitar essas produções e entender o impacto gigante que existe na cadeia de produção desses alimentos me fez diminuir o consumo naturalmente e muito rápido”, diz Ailin, que também é fundadora do site e podcast Vai Se Food e jurada do reality show Top Chef Brasil.

Ela acredita que grande parte da população não sabe como realmente se dá a produção desses alimentos. E, se soubesse, pensaria de forma diferente.

Ailin argumenta que antibióticos nos animais de abate, uso de gaiolas para produção de ovos, tratamento de animais e o impacto na saúde pública ajudaram a “diminuir o consumo ou quase parar”.

Jornalista especializada em gastronomia, ela afirma que há inúmeras possibilidades de cardápios no mundo vegetal. “Eu acho muito mais interessante quando usamos alimentos do universo animal como um detalhe, porque não é normal ou sustentável a gente consumir bicho como consumimos hoje”, diz.

Uma comissão da ONG EAT-Lancet desenvolveu um relatório chamado A Dieta da Saúde Planetária que contou com a participação de 37 cientistas líderes de 16 países em diversas áreas, incluindo saúde humana, agricultura, ciência política e sustentabilidade ambiental.

O trabalho, que pode ser lido em português, concluiu que a migração para dietas saudáveis até 2050 vai exigir mudanças substanciais. O consumo geral de frutas, vegetais e nozes terá que duplicar, enquanto o consumo de alimentos como a carne vermelha terá que ser reduzido em mais de 50%. Para os especialistas, a adoção global de dietas saudáveis, a partir de sistemas alimentares sustentáveis, protegeria o planeta e melhoraria muito a saúde de bilhões de pessoas.

“E depois de entender tudo isso, eu não consegui não mudar a minha alimentação. Hoje, para mim, é inviável eu pensar em me alimentar de outra forma”, esclarece Ailin.

Especialistas veem com bons olhos

O movimento do flexitarianismo começou a ter notoriedade a partir dos anos 2000. Segundo Jacob, pesquisadora e professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ainda não há pesquisas que definam os flexitarianos brasileiros, no entanto, assim como em demais países, essa população visa, sobretudo, diminuir o impacto ambiental causado pelas cadeias de produção alimentícias derivadas de animais.

“Esse é um grupo que está mais preocupado com questões relacionadas ao impacto ambiental direto. E para produzir carne nós gastamos muitos recursos naturais, como terra e água. Também emitimos muitos gases de efeito estufa por causa do desmatamento, já que o boi precisa de área de pastagem e, além disso, emite gases de efeito estufa durante a sua digestão”, comenta Jacob. (BBC News Brasil)

 

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