“O livro resgata parte da verdade de um povo”
Maria Auxiliadora de Azevedo Coutinho e Castro é Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Bacharel em Ciências Jurídicas pela UNEMAT, advogada e Doutora em História Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Diretora do Arquivo Público de Mato Grosso, professora, fundadora e chefe do Departamento de História da Unemat. Fundadora e Diretora do Núcleo de Documentação Escrita e Oral – NUDHEO-, e Diretora do Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas, ambos da Unemat. Adiciona em seu vasto currículo, conselheira na cadeira das Universidades Públicas do Conselho Estadual de Educação, bem como presidente da Câmara de Educação Superior e vice -presidente do Conselho. Atualmente está aposentada e trabalha como assessora jurídica na Câmara Municipal de Maricá no Rio de Janeiro. Nesta entrevista concedida ao Blog da Condessa, Maria Auxiliadora conta sobre a experiência e a jornada ao escrever o livro : “Joaquina: Mulher, Negra, Escrava e Mendiga. Uma saga de cidadania”. Confira!
Blog da Condessa – Qual o propósito do livro Joaquina: Mulher, Negra, Escrava e Mendiga. Uma saga de cidadania?
Maria Auxiliadora de Azevedo Coutinho e Castro – O livro é o resultado das pesquisas documentais que embasaram minha tese de doutoramento em História Social no Programa de Pós Graduação em História da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Blog da condessa – Qual a relevância do registro?
Maria Auxiliadora- O registro dos eventos históricos que foram resgatados nos documentos oriundos dos arquivos judiciais, cartoriais e da imprensa – foi uma maneira de levantar o véu da invisibilidade que a história de manuais lança sobre homens e mulheres comuns. Em especial sobre a sociedade escravista da fronteira oeste do Brasil Imperial.
Blog da Condessa – Como surgiu a ideia do projeto?
Maria Auxiliadora – O projeto “Joaquina” é fruto de um trabalho antigo, de mais de trinta anos, quando eu estava resgatando e cuidando dos documentos históricos para a construção do Núcleo de Documentação Escrita e oral do Departamento de História da Unemat – Campus de Cáceres- MT.
Blog da Condessa – O que o público pode esperar do livro?
Maria Auxiliadora – Romance, vingança, vida cotidiana, a realidade da sobrevivência dos homens e mulheres escravizados na fronteira oeste do Brasil.
Blog da Condessa – A trajetória de Joaquina Malheiros e sua luta por liberdade é compartilhada nesse livro. O contexto da obra emociona de que forma?
Maria Auxiliadora – Joaquina Malheiros teve sua saga resgatada devido a iniciativa que teve de propor uma “Ação Civil de Liberdade” em face de seu senhor que se recusou a lhe dar a alforria indenizada prevista na Lei do Ventre Livre. Sua vida foi contada nas páginas do processo e serve hoje como referência do comportamento digno, culto e altivo dos escravizados e escravizadas.
Blog da Condessa – Qual o sentimento desta sua jornada?
Maria Auxiliadora – Sinto uma profunda plenitude e muita paz, apresentar um novo modelo, uma nova versão para os escravizados que lutaram em busca de sua liberdade, traz um sentimento interno de justiça e gratidão pela oportunidade de resgatar parte da verdade de um povo.
Blog da Condessa – O que significa/ representa a obra para o universo cultural de Mato Grosso?
Maria Auxiliadora – A Historiografia de Mato Grosso, apesar de rica, tem poucos registros sobre escravidão no século XIX. A abertura e apresentação dos arquivos judiciais traz, até mesmo, metodologicamente sobre a conjuntura histórica desta fronteira. E especial, a obra traz uma análise populacional da Província de Mato Grosso através da observação e registro feito pelo Censo Imperial de 1872. Imagino que inédita.
Blog da Condessa – Na sua opinião, sinônimo de ler é?
Maria Auxiliadora – Ler é se identificar como ser humano, com outros seres humanos. É um ato exclusivamente humano e serve para nossa evolução e distanciamento da barbárie.
Blog da Condessa – Por favor, conte-nos como foi a experiência de fazer o livro.
Maria Auxiliadora – Escrever sobre Joaquina e outros escravizados e libertos foi um mergulho numa realidade, até então, totalmente desconhecida. Poder transcrever e apresentar tal realidade é um ato de solidariedade com a atual resistência e luta do povo preto.
Blog da Condessa – Que descobertas que você fez nessa imersão?
Maria Auxiliadora – Foi uma constatação sobre a vivência cotidiana dos homens e mulheres escravizadas na Província de Mato Grosso durante o século XIX. Apresentando que eles possuíram e executaram projetos de vida individuais que não estiveram necessariamente ligadas ao projeto de liberdade dos abolicionistas burgueses.
Blog da Condessa- O livro está disponível na Amazon e Editora Vison?
Maria Auxiliadora – Sim. Também no Shoptime, Submarino, Magazine Luiza, Americanas.
Blog da Condessa – Você já percorreu alguns municípios de Mato Grosso para lançar a obra, incluindo Cuiabá. Há mais datas/cidades na agenda de lançamento?
Maria Auxiliadora – Fizemos o lançamento da obra num evento do Museu Alaíde Monteque, da Unemat em Cáceres e no Departamento de Direito da Faculdade Rainha da Paz em Araputanga- MT. Temos feito alguns contatos para futuros eventos. Porém, os livros podem ser adquiridos na forma física ou online nas lojas indicadas.
Blog da Condessa – Qual a mensagem de vida para as futuras gerações?
Maria Auxiliadora – Digo aos mais jovens, em especial àqueles que se interessam pelas Ciências Humanas e à História, que o Universo de Pesquisa é imenso, inimaginável e muito importante. A história é a maior chave para entendimento do presente.